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Cássio Santiago

Policiais Militares: Saúde Ocupacional

AVALIAÇÃO DA DOR LOMBAR DE UM EFETIVO DE POLICIAIS MILITARES DO ESTADO DA BAHIA: PREVALÊNCIA, INTENSIDADE DA DOR, COMPROMETIMENTO FUNCIONAL E PERFIS EVALUATION OF LOW BACK PAIN IN POLICE OF A COMPANY INDEPENDENT OF MILITARY POLICE (CIPM) OF THE STATE OF BAHIA: PREVALENCE, PAIN SEVERITY, FUNCTIONAL IMPAIRMENT AND EMPLOYMENT PROFILE


Artigo Original

Cássio Santiago¹


RESUMO

O estudo foi realizado com um efetivo de policiais militares do Estado da Bahia que teve como objetivo estimar a prevalência de dor lombar, identificar a intensidade da dor, o comprometimento funcional e os elementos dos perfis sociodemográfico e laboral associados. A amostra foi constituída de 143 policiais, submetidos ao Formulário de Identificação, à Escala Visual Analógica (EVA) e ao Questionário Funcional de Oswestry Modificado. Estimou-se uma prevalência de dor lombar de 74,1%. Identificou-se dentre estes, que 23,6% apresentam nível de dor leve, 69,8% dor moderada, 3,8% dor intensa e 2,8% a dor máxima suportável. O comprometimento funcional mínimo foi detectado em 71,3%, o moderado em 13,3% e o grave em 0,7%, havendo diferença estatisticamente significante com a lombalgia. Por fim, levantou-se a hipótese de que o fator psicológico, somado aos elementos do perfil laboral, sejam capazes de produzir risco de desenvolvimento da dor lombar. Programas preventivos, com medidas ergonômicas e de reabilitação eficazes são cabíveis para reduzir o aparecimento e/ou recorrência dos sintomas dolorosos, aumentar a eficácia do sistema músculo-esquelético, melhorar a qualidade de vida dos profissionais, e assim, aperfeiçoar os serviços prestados à população.

PALAVRAS-CHAVE: Dor lombar; Lombalgia; Policiais.


ABSTRACT

The study was an effective military policemen of the state of Bahia that aimed to estimate the prevalence of low back pain, identify pain severity, functional impairment and sociodemographic profiles of the elements and associated labor. The sample consisted of 143 officers, subject to the Identification Form, the Visual Analogue Scale (VAS) and the Oswestry Questionnaire Functional Modified. We estimated a prevalence of low back pain of 74.1%. It was identified among these, 23.6% have that level of mild pain, 69.8% moderate pain, severe pain 3.8% and 2.8% to maximal pain bearable. The minimal functional impairment was detected in 71.3%, moderate in 13.3% and severe in 0.7%, a statistically significant difference with lumbago. Finally, he got up the hypothesis that the psychological factor, added to the elements of the profile labor, are capable of producing risk of developing low back pain. Preventive programs with ergonomic measures are effective and rehabilitative reasonable to reduce the onset and / or recurrence of painful symptoms, increase the effectiveness of the musculoskeletal system, improving quality of life for professionals, and thus, improve the services provided to the population.

KEYWORDS: Prevalence, Back Pain; Police.


¹ Fisioterapeuta

contato@cassiosantiago.com


INTRODUÇÃO

A Polícia Militar da Bahia é um órgão da Administração Direta do Estado, na qual atua com dois tipos de Unidades Operacionais: Os Batalhões e as Companhias Independentes (1). A ela compete a execução, com exclusividade, do policiamento ostensivo com vistas à preservação da Ordem Pública, onde o policial é de imediato identificado, quer pela farda, equipamentos ou viatura (2). As características do serviço dos policiais apresentam peculiaridades que não se repetem ou são reduzidas quando comparadas entre si: o Radiopatrulhamento, através de viaturas; o Policiamento Ostensivo a pé, executado nas principais ruas e centros comerciais; e os Serviços Internos nas Unidades, a fim de manter a operacionalidade (1).

Entende-se por dor lombar ou lombalgia, todas as condições de dor com ou sem rigidez, localizadas nas regiões inferiores do dorso, entre o último arco costal e a prega glútea (3). A dor segundo a Associação Internacional de Estudo da Dor, IASP, em geral se traduz por uma “experiência sensorial e emocional desagradável associada ou relacionada à lesão real ou potencial dos tecidos, ou descrita em tais termos” (4). O diagnóstico da lombalgia pode ser considerado simples, pois geralmente o quadro clínico é constituído por dor, podendo gerar incapacidade de se movimentar e trabalhar (5). O conhecimento acerca das possíveis causas ainda é um desafio, visto que a lombalgia possui caráter multifatorial e apresenta componentes laborais e extra-laborais (6,7).

A dor lombar pode ocorrer devido a trauma, distúrbio metabólico ósseo, processos infecciosos, neoplasias, causas viscerais e psicológicas. No entanto, vem sendo frequentemente relacionada à causas mecânicas, ou seja, relacionadas com posições inadequadas, repetitivas, praticadas no dia-a-dia, associadas às deficiências musculares (8,9). O sistema musculoesquelético está sujeito à desarmonia quando submetido a condições inadequadas que afetam diretamente a postura corporal, como cargas excessivas, sentar-se e flexionar o tronco de forma inadequada, por exemplo (10).

A lombalgia é uma afecção muito comum na população, sendo que, em países industrializados, sua prevalência é em torno de 70% e cerca de 10 milhões de brasileiros ficam incapacitados por causa desta morbidade (11,12) Este tipo de dor contínua e por longo período de tempo afeta muitos aspectos da vida e pode levar a distúrbios do sono, depressão e à irritabilidade (13).

A atividade ocupacional implica em exigências do sistema musculoesquelético com manutenção de posturas estáticas e dinâmicas por tempo prolongado sobrecarregando mecanicamente as estruturas osteo-mio-articulares (14,15). Posturas comuns no trabalho, como ficar de pé ou sentado por horas, aumentam a carga axial, normalmente exercida sobre a coluna lombar pela força gravitacional (16). O impacto da dor lombar na funcionalidade é consenso entre os profissionais de saúde, podendo restringir as atividades ocupacionais, repercutindo socioeconomicamente, uma vez que é a razão mais comum de incapacitação e absenteísmo (17,18).

Segundo Cailliet (19) (2001), as entidades envolvidas na avaliação e no tratamento do paciente com dor lombar ainda lidam com situações não-totalmente dominadas no que se refere às causas do problema e ao melhor tratamento, sendo complexa e difícil de assimilar, de forma significativa, uma revisão cuidadosa e abrangente da literatura. Acredita-se que medidas de intervenção sobre a lombalgia já instalada não traduz a maneira mais eficaz e adequada de manipulação deste fato. A identificação e predisposição do trabalhador à lombalgia deveria ser a atenção primária quanto a esta ameaça ocupacional (20).

A lombalgia merece consideração especial no exercício da atividade policial militar. Durante o serviço estes profissionais permanecem longos períodos em ortostase ou em sedestração, de acordo com a característica do serviço. Soma-se ainda fatores psicossociais, ambientais e o peso da indumentária - farda, colete antibalístico, armamento, carregadores, algemas, rádio transmissor e outros acessórios. Embora os investimentos consumidos pela infra-estrutura da segurança pública em armas, viaturas, equipamentos de proteção individual e preparação técnica, eles cedem espaço ao absenteísmo e ao tratamento de doenças ocupacionais (21).

A atenção à saúde em atividades essenciais para a sociedade faz com que desperte o interesse de novos trabalhos científicos de modo que possa colaborar para implementação de ações, dentre elas, os programas preventivos. Portanto, este estudo com um efetivo de policiais militares do Estado da Bahia teve como objetivo estimar a prevalência de dor lombar, identificar a intensidade da dor, o comprometimento funcional e os elementos dos perfis sociodemográfico e laboral associados.


MATERIAL E MÉTODOS

O estudo foi de corte transversal com policiais lotados em uma Companhia Independente da Polícia Militar, CIPM, do Estado da Bahia. Uma CIPM na cidade de Salvador foi selecionada por conveniência, sendo que a mesma possui os Serviços Internos, o Policiamento Ostensivo a pé e o Radiopatrulhamento em viaturas. Foi disponibilizada previamente uma cópia do projeto ao Comandante e ao Subcomandante da CIPM, visando a ciência e aprovação da pesquisa, bem como o livre acesso às dependências.

A população foi composta por policiais de ambos os sexos, com vínculo funcional na CIPM, em todas as hierarquias presentes. Os critérios para exclusão foram os que estivessem afastados do serviço por mais de quinze dias - exceto em função da lombalgia -, as policiais grávidas e os que, porventura, se recusassem em participar ou não fossem encontrados. Os dados foram coletados, individualmente, durante os meses de junho e julho do ano de 2010.

Os policiais foram abordados na unidade sede antes de assumirem o serviço, sendo esclarecidos a respeito da proposta do estudo, garantindo-os a confidencialidade das informações, a incolumidade física e moral, o direito de interromper a participação em qualquer momento e entre os demais Critérios da Ética em Pesquisa com Seres Humanos conforme Resolução no. 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. Todos aqueles que concordaram em participar da pesquisa assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).

O estudo foi norteado pela aplicação de três instrumentos: o Formulário de Identificação, criado para a pesquisa com intuito de obter informações sobre o perfil do efetivo policial, contendo 12 itens; a Escala Visual Analógica (EVA), com graduação de 0 a 10, estimando a dor lombar no momento da aplicação do questionário, assinalando um valor, classificando 0 (zero) como ausência de dor, 1 e 2 como dor leve, 3 a 7 como dor moderada, 8 e 9 como dor intensa e 10 (dez) a dor máxima suportável; e o Questionário de Avaliação Funcional de Oswestry Modificado (OSW), validado (22,23), utilizado para investigar o comprometimento funcional relacionado a coluna lombar, no qual elenca dez blocos de perguntas constituídas de seis alternativas cada, com escore correspondente de 0 a 5, sendo que uma foi escolhida demonstrando a melhor percepção de seu estado. Com a soma dos pontos do OSW é feita a porcentagem, ou seja, soma dos pontos x 100 / 50. A interpretação dos resultados foi conduzida da seguinte maneira: 0% – sem comprometimento funcional; 1% a 20% - comprometimento mínimo; 21% a 40% - comprometimento moderado; 41% a 60% – comprometimento grave; 61% a 80% – aleijado; e 81% a 100% – acamado ou exagerando sintomas.

As variáveis definidas para o estudo foram: gênero, idade, outra atividade remunerada, atividade física regular, tempo de serviço policial, característica do serviço, característica do posto de serviço, carga horária por serviço, colete antibalístico, armamento empregado, intensidade da dor e comprometimento funcional.

Os dados obtidos foram organizados no programa Microsoft Office Excel XP e analisados no programa R (versão 2.11.1), onde foi realizada a correção dos dados digitados com o objetivo de eliminar possíveis erros ou inconsistência. Foi feita uma análise descritiva (freqüência absoluta/relativa, mediana, mínimo e máximo) com a finalidade de identificar as características gerais e específicas da amostra estudada. Para verificar a existência de associações entre variáveis do perfil do efetivo policial com a presença de lombalgia utilizamos o teste Qui-Quadrado ou o Teste Exato de Fisher quando este fosse mais adequado.

O nível de significância estabelecido para este trabalho é de 5%. Os resultados obtidos foram apresentados de forma descritiva, tabelas e gráficos comparativos formulados em Microsoft Office Word XP. O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Tecnologia e Ciências de Salvador, Protocolo nº 1.900.


RESULTADOS

A CIPM selecionada dispôs 235 policiais em seu efetivo. Neste estudo foram excluídos 23 policiais por afastamento do serviço por mais de quinze dias e 69 por não terem sido encontrados, gerando uma amostra final de 143 policiais. Na amostra analisada o maior percentual é do sexo masculino (92,3%) e a idade varia de 21 a 56, com mediana de 32 anos (q1 = 28 anos; q3 = 39 anos). Relatam outra atividade remunerada 36 policiais (25,2%) e 67 serem adeptos à atividade física regular (46,9%) (Tabela 1).

Tabela 1. Frequências absoluta e relativa de policiais e lombalgia, associadas ao perfil sociodemográfico do efetivo policial de uma Companhia Independente da Polícia Militar.


O menor grau na hierarquia é a de Soldado e a maior de Tenente Coronel, com mais da metade dos policiais apresentando menos de uma década de serviço policial, mediana de 2,2 anos (q1 = 1,6 anos; q3 = 17 anos). A característica do serviço para 33 dos policiais é na unidade sede (23,1%), 22 no policiamento ostensivo a pé (15,4%) e 88 no radiopatrulhamento (61,5%). Em relação à característica do posto de serviço, para 110 deles é predominante sentado (76,9%). A carga horária por serviço é de 6 horas para 19 (13,3%), de 12 horas para 119 (83,2%) e de 24 horas para 5 (3,5%) dos policiais. Verificou-se neste estudo que 118 policiais utilizam colete antibalístico (82,5%). Quanto ao armamento empregado, 82 policiais manejam armamento leve (57,3%), 53 armamento leve e pesado (37,1%), 4 armamento pesado (2,8%) e 4 não utilizam armamento (2,8%) (Tabela 2).

Tabela 2. Frequências absoluta e relativa de policiais e lombalgia, associadas ao perfil laboral do efetivo policial de uma Companhia Independente da Polícia Militar.

Entre os policiais entrevistados, 106 referem lombalgia (74,1%) (Figura 1), sendo que 25 registram intensidade de dor leve (23,6%), 74 moderada (69,8%), 4 intensa (3,8%) e 3 a dor máxima suportável (2,8%) (Figura 2).

Figura 1. Prevalência de lombalgia em policiais lotados em uma Companhia Independente da Polícia Militar.

Figura 2. Intensidade de dor lombar percebida no momento da entrevista pelos policiais lotados em uma Companhia Independente da Polícia Militar através da Escala Visual Analógica (EVA).


Quanto ao comprometimento funcional relacionado à coluna lombar nos policiais participantes do estudo, o comprometimento mínimo é detectado em 102 (71,3%), o comprometimento moderado em 19 (13,3%), o comprometimento grave em 1 (0,7%). Inválidos, acamados ou exagerando sintomas não foram detectados (Figura 3). A lombalgia foi relatada por 84,4% dos que possuem algum comprometimento funcional relacionado à coluna lombar e por 14,3% dos que não o possuem (p<0,001).


Figura 3. Avaliação dos comprometimentos funcionais relacionada à coluna lombar em policiais lotados em uma Companhia Independente da Polícia Militar através do Questionário de Oswestry Modificado.


Observa-se que a lombalgia acomete 74,2% do sexo masculino e 72,7% do sexo feminino (p=1,000). Os sintomas dolorosos na coluna lombar são apresentados por 74,4% dos policiais da faixa etária compreendida entre 18 e 29 anos, 74,6% entre 30 e 39 anos, 73,1% entre 40 e 49 anos e 71,4% dos de 50 a 59 anos (p=0,997). Entre os policiais que realizam outra atividade remunerada, a dor lombar esteve presente em 72,2% destes e em 74,8% nos que não a realizam (p=0,763). Nos praticantes de atividade física regular a lombalgia aponta com 74,6% e com 73,7% entre os que não praticam (p=0,898) (Tabela 1).

Quanto aos elementos laborais, a lombalgia acomete 73,9% dos policias com tempo de serviço compreendido entre 1 e 9 anos, 75,9% entre 10 e 19 anos, 77,3% entre 20 e 29 anos e 50% com 30 anos ou mais de serviço policial (p=0,733). Os sintomas dolorosos na lombar são sentidos por 72,7% dos que trabalham na Unidade Sede, por 72,7% do Policiamento Ostensivo a Pé e por 75% dos profissionais que trabalham no Radiopatrulhamento (p=0,955). Observa-se que entre os que trabalham predominantemente em pé a lombalgia acomete 75,8% e 73,6% entre os que trabalham predominantemente sentados (p=0,807). No que tange a carga horária por serviço, a patologia é citada por 78,9% dentre os que cumprem 6 horas, por 72,3% a de 12 horas e por 100% a de 24 horas (p=0,453). Nota-se que a dor lombar é informada por 77,1% dos que utilizam colete e por 60,0% dos que não o utilizam (p=0,076). De acordo com o armamento empregado, a lombalgia é evidenciada por 75,6% dentre os que utilizam armamento leve, por 75,0% do tipo pesado, 73,6% do tipo leve e pesado e por 50,0% dentre os que não utilizam nenhum armamento (p=0,685) (Tabela 2).


DISCUSSÃO

Encontrou-se uma alta prevalência de lombalgia (74,1%) nos policiais deste estudo. Esse dado corrobora com o estudo realizado por Rodrigues (21) (2007), no qual encontrou uma prevalência de 83,2% quando empregados na ronda a pé da orla marítima de Salvador, Bahia. Em um estudo realizado na população desta cidade, sobre a dor lombar crônica, foi encontrada uma prevalência de 14,7% (24), sendo mais elevada do que os 4,2% de lombalgia crônica encontrados por Silva (25) et al (2004) na população geral da cidade de Pelotas, Rio Grande do Sul. Dados epidemiológicos de outros países apontam para prevalência de lombalgia mais elevada do que a observada no Brasil. No Reino Unido, Papageorgiou (26) et al (1995) encontraram 59% de portadores de dor lombar crônica na população e Holmberg (27) et al (2005) avaliaram a dor lombar e suas comorbidades na Suécia e verificaram que em 64% da população do estudo a dor lombar ocorreu pelo menos uma vez durante a vida. Já na Grécia, foi encontrada prevalência de 31,7% na população (28).

Neste estudo obteve-se diferença estatisticamente significante quando associou a lombalgia ao comprometimento funcional. Acredita-se que o paciente pode ter um comprometimento funcional significativo, embora ainda não esteja incapacitado para o trabalho a depender da demanda do serviço, do tipo e da extensão da deficiência, com conseqüente queda de produtividade laboral (19,29). Observou-se que dentre os que têm algum comprometimento funcional relacionado à coluna lombar, 15,6% não referem lombalgia. Presume-se que apesar de não apresentarem dor lombar no momento da pesquisa, as atividades de vida diária as causam. A idade e o tempo de serviço policial não se comportaram como fator de risco para o desenvolvimento da lombalgia. Alguns estudos (25,30,31,32) relacionam o aumento da prevalência de dor lombar ao aumento da idade, justificado o fato dever-se aos processos degenerativos, podendo trazer desgaste das estruturas osteo-mio-articulares e orgânicas. Contudo, outros estudos (16,33) indicam uma tendência de dor lombar inversa ao aumento da idade, dado ao fato de os indivíduos com mais idade exercerem mais cargos de chefia e tarefas administrativas, não sendo submetidos à uma sobrecarga na coluna.

Gênero e outra atividade remunerada foram variáveis que não permaneceram associadas ao desfecho final. Para alguns autores (34) as mulheres apresentam maiores queixas de dor possivelmente em decorrência de algumas características anátomo-funcionais (menor estatura, menor massa muscular, menor massa óssea, articulações mais instáveis e menos adaptadas aos esforços físicos) diferentes dos homens. Porém, a combinação do trabalho fora de casa com a realização de tarefas domésticas não seriam suficientes para alegar o risco maior em mulheres, uma vez que os homens durante a jornada de trabalho realizam atividades que exigem maiores esforços físicos, sobrecarregando o sistema musculoesquelético, além de realizarem outra atividade remunerada para complementar a renda.

A lombalgia não apresentou diferença estatisticamente significante quando relacionada à atividade física regular, corroborando com o estudo de Brito (16) (2008). Apesar de apontarem (35) para a importância da prática da atividade física regular como um meio de evitar o aparecimento de incapacidade e melhoria da qualidade de vida, a realização de exercícios físicos sem orientação profissional e a não utilização de calçados apropriados para sua prática, devem ser os fatores que podem interferir diretamente na sobrecarga da coluna lombar (16).

Os equipamentos de proteção individual são objetos de reclamações pelo excessivo incomodo, intensificado pelas altas temperaturas tropicais. O calçado (coturno) é desconfortável, quente e não absorve impactos. O colete antibalístico (aproximadamente 2 kg) dificulta a expansibilidade torácica, limita a flexibilidade do policial e aumenta a sensibilidade térmica. Este possui ajustes superiores na altura dos ombros e laterais juntos aos arcos costais. Soma-se ainda o peso de materiais que podem ser anexados ao colete e em outros compartimentos como, por exemplo, armamento leve e pesado (este através de bandoleiras), carregadores de munições, rádio transmissor, algemas, celular, bloco de anotações e outros objetos pessoais (aproximadamente 6 kg). Entretanto, não houve significância estatística da lombalgia associada ao colete antibalístico e ao armamento empregado. A ausência de associação com o desfecho pode dever-se a falta de poder estatístico diante do número da amostra, apresentando valores próximos da significância. Sugere-se que o colete antibalístico e os armamentos empregados estejam mais relacionados à alterações na região cervical e torácica do que na lombar. Além da resistência gerada através dos ajustes do colete antibalístico, há ação da força gravitacional sobre o mesmo, bem como em outros materiais, deslocando o centro de gravidade para anterior e/ou lateral. Pode ocorrer um aumento de tensão devido à sustentação do peso e ajuste do colete antibalístico, assim como pela manutenção da postura ereta do tronco com carga.

Não houve diferenças estatisticamente significantes da lombalgia relacionada à carga horária por serviço, à característica do serviço e à característica do posto de serviço. A carga horária de trabalho e folga diferenciam-se de outras profissões quando são observados os instrumentos empregados, a característica do posto de serviço e, consequentemente, a característica do serviço. Acredita-se que o tempo de folga proporcional à carga horária por serviço sejam capazes de minimizar os efeitos da exposição aos elementos ambientais do trabalho.

Todavia, a lombalgia nos policiais pode estar relacionada a causas psicológicas (9). Além das queixas quanto aos equipamentos de proteção individual, o desempenho da segurança pública ocorre muitas vezes em um ambiente violento e tenso, de difícil acesso, sujeito a riscos, levando seus profissionais a receberem uma sobrecarga emocional e física, de forma fatigante e desconfortável para as estruturas corporais. Há situações adversas e estressantes, nas quais o policial transmite a sensação de segurança à população em benefício da ordem pública e que na maioria das vezes não é reconhecida.

A literatura carece de dados mais específicos com policiais a respeito do tema. Os estudos quanto à segurança pública geralmente dão ênfase aos aspectos técnicos da profissão, com pouca importância à saúde ocupacional do profissional. Este estudo esteve limitado pelo tempo restrito dos policiais para colher medidas antropométricas e a necessidade de um vasto número amostral, diante do seu caráter descritivo.


CONCLUSÃO

A prevalência de lombalgia (74,1%) em policiais lotados em uma Companhia Independente da Policia Militar do Estado da Bahia foi alta. Houve registros em todas as intensidades de dor. A lombalgia causou comprometimento funcional, apresentando associação estatisticamente significante. As variáveis gênero, idade, tempo de serviço policial, característica do serviço, característica do posto de serviço, carga horária por serviço, colete antibalístico, armamento empregado, outra atividade remunerada e atividade física regular não foram consideradas como elementos de risco para desenvolvimento da lombalgia. Porém, o colete antibalístico obteve valores próximos da significância em função do poder estatístico para com o número da amostra. O estudo levantou a hipótese de que o fator psicológico, com sobrecarga mental e física, somado aos elementos do perfil laboral, sejam capazes de produzir risco de desenvolvimento da lombalgia.

A eficácia e o conforto dos equipamentos serão aperfeiçoados à medida que as empresas tecnológicas desenvolvem materiais mais leves, resistentes e acessíveis. Cabe à iniciativa governamental o investimento em adquiri-los, visando melhorar a qualidade de vida dos profissionais e, assim, aperfeiçoar os serviços prestados à população.

Portanto, é necessário a realização de programas preventivos, com medidas ergonômicas e de reabilitação eficazes, a fim de reduzir o aparecimento e/ou recorrência das dores e aumentar a eficácia do sistema músculo-esquelético. Com o desenvolvimento de estudos de maior número amostral de policiais, englobando fatores etiológicos mais amplos, incluindo as variáveis antropométricas, poderá ser possível suscitar os fatores mais comuns para o desenvolvimento da lombalgia nestes profissionais.





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